9ª Oficina de Inclusão Digital

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9@ Oficina de Inclusão Digital from Telecentros BR on Vimeo.

Partes da transcrição da apresentação de Drica Guzzi na 9ª Oficina de Inclusão Digital (06/2010)
“Não estamos só surfando, estamos produzindo a onda.”
Drica Guzzi
Bom dia a todos, é um prazer estar aqui.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer e destacar essa iniciativa. Esse projeto dos editais dos Telecentros.BR é como se fosse uma síntese histórica propositiva. No fundo, eu vejo esse programa como um grande agregador de todas as experiências. Agradeço então a todos os que participaram, que tiveram a capacidade de escutar as experiências que ocorreram ao longo desses dez anos e que, de certa maneira, foi uma proposta ousada. Foi extremamente ousado o que foi feito, no tempo em que foi feito. Acho que quando aparece um Programa dessa envergadura, todos aqui, que somos da militância da inclusão digital, somos vitoriosos.
(…)
Faço parte de um grupo muito interessante, um grupo que tem no seu DNA de origem uma pluralidade mesmo de experiências em relação à formação de redes e à inclusão digital. Estão aqui o Hernani Dimantas, o Dalton Martins e o Júlio Boaro que vêm de experiências importantes com MetaReciclagem e cultura digital. Temos nossa experiência com o Acessa SP, que é Programa de Inclusão Digital do Governo do Estado de São Paulo; temos uma experiência com a Rede HumanizaSUS, que é a rede de humanização da saúde, com a qual há três anos a gente vem trabalhando com eles. Eu estou contando isso, porque estamos entrando no Programa Telecentros.BR com a questão do plural, do múltiplo na sua origem.
(…)
O Telecentro.BR vai mudando a história de cada pessoa que participa. E ela só pode acontecer se tivermos de fato esse respeito pela diferença, pelo que cada um pode trazer.
(…)
Então eu queria contar aqui para vocês um pouco dessa experiência dos dez anos e, na verdade, fazer um convite. Ainda que estejamos pensando nos próximos dez anos, estamos hoje em um momento muito importante mesmo da inclusão digital.
Como experiência que a gente vem acumulando ao longo desses últimos dez anos, essa questão da formação do monitor é super importante; ela em si já é quase um programa de inclusão digital.
O Telecentros BR tem uma meta de formar 18.270 monitores. Só essa camada da rede de formação já se constitui um programa de inclusão digital.
Por isso eu queria aqui reforçar o perfil desse monitor. Quem está aqui e vai estar nas entidades escolhendo e ajudando a fazer a escolha desta pessoa, precisa realmente se atentar que não se trata de escolher um técnico por excelência. Você não vai eleger aquela pessoa, aquele cara só porque ele entende de computador.
O monitor é alguém que vai fazer toda a diferença naquele espaço. É um ativista mesmo, uma pessoa que precisa ter a sensibilidade para perceber alguma vocação local.
(…)
Em geral as pessoas não sabem verbalizar, não querem ou não praticaram, não sabem muito bem o que vão fazer naquele espaço, mas sabem que estão disponíveis para construir alguma coisa.
O monitor precisa ter a sensibilidade de ir construindo alguma coisa; é um trabalho pequeno; é ao longo do tempo que vamos percebendo os resultados.
Então, esta é uma outra questão que eu queria pontuar aqui: somos nós o Telecentros BR. Talvez seja necessário, nessa empreitada que estamos começando, segurar um pouco a ansiedade de querer ver produção de conteúdo, a mil por hora, todo mundo de apropriando… Não é assim. Quem está aí ao longo dos anos sabe que é uma construção mesmo, é ao longo do tempo. Se ficarmos com essa ansiedade em relação ao resultado, acabaremos perdendo a riqueza do processo e ela é fundamental para que cheguemos lá. Não se trata de não focar nos resultados. Os resultados são importantes. As metas, os resultados, são sínteses de processos; eles também são uma descrição de uma trajetória; mas é uma das descrições. O processo de construção dessa apropriação é fino, é caso a caso, é cuidadoso.
(…)
É preciso dar luz ao que já existe… Porque de fato existe muita coisa; tem muita coisa acontecendo, mas muitas vezes elas ficam escondidas, não estão na rede exatamente. Ou elas estão, mas não estão se expressando, não estão – o que a gente costuma dizer – se articulando totalmente na rede. Então um dos nossos desafios é realmente esse: fazer com o que já existe entre para uma rede de potências, uma rede de colaboradores mesmo.
(…)
Nós usamos coisas simples até para fazer a conversa dessa rede e distribuir: então, por exemplo, uma lista de discussão, que acho que a maioria aqui até já conhece e talvez participe até, e que faz toda diferença num programa de telecentro, de inclusão digital. No Acessa São Paulo, por exemplo, há uma lista em que participam os 1.100 monitores. No começo havia toda uma preocupação da coordenação do Programa, em torno do que iriam falar na lista ou que na lista todo mundo deveria estar participando. E o que a gente percebe ao longo desses anos todos? Em primeiro lugar, não é todo mundo que participa de uma mesma forma. Menos de 10% realmente participa ativamente escrevendo. Mas a maioria lê; e quem lê também está participando, está junto.
Querer então que todo mundo participe do mesmo jeito também é uma expectativa errada, cada um vai participar de um jeito.

E a outra coisa é a questão do controle. No começo queríamos controlar a lista: isso pode falar, isso não pode, isso pode, isso não pode. O que também não dá certo, porque uma das nossas crenças é a auto-regulação de um sistema e uma auto-organização que aquela comunidade também vai constituindo. Só que isso também não é imediato, tem que ter uma certa paciência para a apropriação. Então talvez a nossa estratégia pedagógica seja justamente construir a estratégia para essa apropriação. Esse caminho da apropriação é o mote pedagógico; e aí ele se desdobra em alguns eixos: dá luz ao que já existe, não fica no discurso da falta.

Há um exemplo muito importante que vivenciamos lá na capital, em São Paulo, com as escolas. Tivemos uma experiência de colocar telecentros dentro da escola. E qual era o discurso da gestão, da rede e da educação? Que a escola não sabe usar a Internet; que os professores não sabem usar a Internet; que querem aprender, mas não conseguem e tudo mais, que não estão na rede. É claro que faz sentido querer fazer o melhor. Mas então o que vimos? Fomos fazer um mapeamento. Não ali na escola, mas na Internet. Fomos para a rede: será que aquela escola está na rede? E o que encontramos? Nada. Não havia esta informação em lugar algum. Haviam 248 escolas na rede, às vezes um blog de algum professor, uma comunidade no Orkut ou um blog de um aluno representando e se descrevendo como a escola. Isso estava invisível para aquela rede da educação. E não fizemos nada? Fizemos sim, nós mapeamos. Temos hoje recursos computacionais suficientes para conseguir fazer isso, o que há 10 anos não tínhamos. Estamos, então, num momento tecnológico diferente. O que fizemos foi mapear o que já existe e quando levamos para a própria rede foi uma descoberta.

(…)
São exemplos assim que fazem toda diferença.
É claro que tem um trabalho grande de mapeamento de indicadores, de ir atrás, de processar uma camada grande de dados, mas para isso a tecnologia ajuda, esse não é o problema.
(…)
Na capacitação, por exemplo, na formação, tem um momento em que o monitor é convidado a entrar na lista de discussão de e-mails que está na Internet, onde estão todos os outros monitores. E quando ele entra na lista, tem sempre alguém que diz: “Bem-vindo á família Acessa São Paulo”; um outro fala “Bem-vindo a esta rede”’. Então há a sensação de pertencimento que é a rede mesmo. Quem está na rede e está vivendo a mesma coisa é quem acolhe e diz: “Bem-vindo, você vai fazer parte dessa conversa”.
Então isso não tem preço, não tem desenho pedagógico que dê conta, porque isso é que vai afetando as pessoas que estão nesse projeto.
(…)
Surgem então algumas perguntas que vão desde: “O usuário quer usar o Gimp, como é que eu corto a foto?”; outras perguntas são mais técnicas, acerca de softwares; e há perguntas que parecem bobas, mas as pessoas enfrentam: “Ai gente, estou com um problema: vem um usuário aqui que tem mau cheiro; toda vez que ele chega, todo mundo se espanta. O que eu faço?” Aí alguém responde: “Deixe um desodorante ali” ou “Chame-o para conversar” ou “Isso pode ser uma doença, um irmão meu tinha”. Enfim, tem de tudo! Porque a natureza humana é diversa. Mas você poder colocar isso numa lista de discussão e ter várias pessoas que na verdade respeitam a sua questão e contribuem é realmente ativar o que a gente chama Inteligência Coletiva ou Criatividade Coletiva, essa rede mesmo, potência dessa rede; é um pouco disso que a gente vai estar juntamente construindo nesse Programa – o Telecentros BR – que está só começando.
(…)
O Programa tem que ter um respaldo de métricas, de indicadores ao longo do tempo, que o sustentem enquanto investimento, enquanto história, enquanto um caminho futuro. Este também é um dos grandes desafios desse Programa: estar cuidando desse elemento, que aqui chamam de monitoramento, que tem um desenho participativo, em que todos os atores entram para fazer isso em algum momento, mas que é fundamental para que ele se sustente ao longo do tempo, independente do governo que esteja no momento.
(…)
[referindo-se ao mapa da tela] Nós montamos uma espécie de mapa, uma nuvem semântica das onze páginas que constituem a carta, que é um mapa daquele momento. Faz sentido ‘inclusão digital’ ser o termo maior, porque era o momento que a gente estava constituindo o campo, o conceito. Ele aparece de fato muitas vezes no documento. Aparecem também em destaque as questões comunicação, desenvolvimento.
(…)
O que já estava aparecendo? Ações, uma questão de aplicação, comunidade também como muito importante, comunicação. Mas vejam: ‘pessoas’ e ‘formações’ não estavam tão claras naquele momento em que estávamos na questão da construção do campo. Fizemos também um mapeamento do momento da rede de formação.
(…)
No documento feito quase sete anos depois, vemos que a idéia da inclusão digital já está distribuída, ela já está operando em várias ações. A formação toma um caráter mais prioritário. Aparece aqui a rede com mais força, antes não aparecia tanto. Apareceram iniciativas participantes, pessoas.
É meio uma brincadeira, mas acreditamos que dá para ver como caminhou a própria discussão, o próprio entendimento do que estamos fazendo.
Eu me lembro que no começo, em 1999 ou 1998, quando entrei com essa história de inclusão digital, eu não conseguia nem explicar para minha família o que eu fazia. Era muito difícil explicar: a rede, a Internet. E às vezes ainda hoje é.
Não estamos só surfando, estamos produzindo a onda.
(…)
É uma questão pessoal de cada um ter uma militância, mas se não for assim, não vai para frente. A gente vai encontrar muita dificuldade mesmo.
Então essa coisa de fazer a onda, formar essa onda é o risco e a beleza da história.
(…)
Acho que a gente tem que ter uma militância mesmo para fortalecer a sociedade civil articulada e garantir algumas prioridades.
Também não gosto muito do termo “inclusão digital”. É um termo difícil de cuidar; tentamos substituir por ‘apropriação de tecnologia’, ‘tecnologia de apropriação’; mas enfim, é um termo que acabou ficando, então acho que quando passamos a habitá-lo, construir os sentidos de outras forma, acaba ficando mais digerível. E a questão política do CDI lá no começo do Acessa São Paulo, eu não estava presente naquela época, mas eu sei que teve toda uma mudança, vai pra cá, vai pra lá.
(…)
Tínhamos uma especial sintonia com as propostas. É uma questão para se pensar um pouco para a frente e tentar fazer o que consideramos justo.
Intervenção (monitora do Acessa SP de Ilha Solteira): Boa tarde. Não vou fazer uma pergunta; considero mais um depoimento. Eu sou Ana Luiza e eu queria comprovar o que a Drica disse, porque eu sou monitora projetista do Acessa São Paulo do município de Ilha Solteira e faço parte dessa lista de discussão que realmente funciona.
(…) É uma ferramenta de trabalho do dia-a-dia que auxilia muito, realmente colabora, se você tem um problema e coloca na lista, você tem como dividir o problema com as pessoas e na hora mesmo vem um monte de soluções.
(…) Outro fator que eu considero importante na fala da Drica: temos capacitações com bastante periodicidade. E também quero dizer sobre não sermos obrigados a ser técnicos em informática. Claro que é importante você ter um conhecimento básico, mas os pontos de inclusão digital vão muito além do acesso à Internet; você acaba fazendo inclusão digital, inclusão social; têm muitos que vão lá para o convívio social mesmo, então não é só inclusão digital.
Intervenção [inaudível]:
Drica: Sem dúvida alguma a questão do lixo eletrônico é fundamental. Precisamos realmente encarar esse tema de frente, porque o problema é sério e mundial.
(…)
Temos um movimento forte que é o lixoeletronico.org, que é um movimento na rede, inclusive estão todos convidados a participar.
E no próprio Telecentros BR esse conteúdo ‘lixo eletrônico’ vai ser transversal às formações; porque a gente costuma dizer que não dá mais pra falar de inclusão digital sem falar de lixo eletrônico.
Qualquer política de inclusão digital não dá pra acontecer se ela não pensar em termos de um subproduto que é a questão do lixo eletrônico.
Há toda uma série de experiências interessantes dos CRCs, do MetaReciclagem, dos pontos que poderemos discutir também nas formações e muito obrigada pela oportunidade de frisar o tema.
Esse encontro está sendo ótimo, se depender de mim, continuamos conversando sobre isso, pois é isso que me mobiliza pessoalmente. Obrigada pelas intervenções, acho que todo mundo que está falando aqui, fala de um lugar legítimo, de uma história importante. E é isso: temos muito trabalho pela frente.

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