Eleições 2010: exercícios de participação na rede?

No decorrer do ano, vimos muitos dos especialistas políticos e de comunicação
debaterem acerca do papel da internet como a grande propulsora de votos nas
campanhas dos candidatos nas eleições de 2010. Muitos apostaram todas as fichas
no fato de que as redes seriam determinantes na escolha deste ou daquele candidato.

Os coordenadores das campanhas dos principais partidos buscaram inspiração na
inovadora e vitoriosa campanha online de Barack Obama, há dois anos. O próprio
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se adiantou em relação às restrições ao uso da
máquina administrativa nos portais do governo e à liberação do uso das redes sociais,
antes mesmo do início do período eleitoral. Até as últimas eleições, só os candidatos
podiam ter espaço em sites ou blogs pessoais para suas campanhas de modo oficial.
Ao cidadão comum era proibido usar esse espaço para apoiar candidaturas.

Mas se por um lado a internet mostrou que pode favorecer a interação com os
eleitores, a formação e a medição da opinião pública, a intervenção na agenda
política dos candidatos, entre outros fatores; por outro, pode-se dizer que mesmo
que os encontros e as conversas entre as pessoas tenham aumentado, isso não
quer dizer que a internet influenciou decisivamente nos rumos das eleições de 2010,
diferentemente das presidenciais norteamericanas que elegeram Obama.

No Brasil, embora em menor grau, podemos verificar claramente que ainda que a
televisão, o rádio e a imprensa escrita continuem sendo as mais importantes fontes de
informação para a escolha dos candidatos nos grandes centros urbanos, muitas das
ações e atitudes dos participantes da rede começam a influenciar no processo político.

Por exemplo, acompanhar os debates entre os candidatos destas eleições pela tevê
foi diferente para quem atua na rede. Embora esses programas não tenham obtido
índices expressivos de audiência, a quantidade – o que não implica necessariamente
qualidade – de informação gerada durante as transmissões em redes sociais como o
Twitter foi imensa. (Lembrando que mais da metade da população brasileira ainda não
tem acesso à internet). Opiniões, observações, elogios, provocações entre militantes
partidários, profissionais de campanhas, seguidores e cidadãos comuns trouxeram
diversidade e polifonia ao que era postado, perguntado e discutido.

Não há dúvidas que a Internet apresentou inovações importantes em torno do debate
político em 2010 que ajudaram a engajar uma parcela significativa de pessoas,
sobretudo os mais jovens, no processo político e não apenas como eleitores ou
doadores de campanha. Apenas na rede social Orkut, pudemos contabilizar mais de
100.000 pessoas em comunidades relacionadas ao assunto e mais de 300 vídeos
foram postados na rede produzidos por militantes / seguidores dos candidatos.

Nesse sentido, cabe destacar os efeitos positivos da campanha Ficha Limpa. A
mobilização que surgiu na internet obteve dois milhões de assinaturas pressionando
o Legislativo a votar, encaminhar à Presidência para ser sancionado e enviar ao
Tribunal Superior Eleitoral o projeto de lei complementar que vigorasse já nas eleições
deste ano. A grande movimentação popular gerada na rede ganhou espaço em
todos os noticiários brasileiros e muitos internacionais. A partir do Ficha Limpa,
pessoas que não se conheciam, informaram, debateram e, ainda que silenciosamente,
acompanharam as conversas durante a campanha.

Também ficou claro para aqueles que participam das redes que as conversas com os “amigos” muitas vezes ficaram no nível do embate deste ou daquele candidato e
na troca de insultos pessoais. Entretanto, a rede se constituiu numa fonte alternativadas grandes mídias, já que muitos dos fatos narrados nos programas políticos outelejornais tiveram outras versões divulgadas na web.

Após a contagem dos votos, é importante lembrar que os que ganham têm grandes
desafios pela frente. Porém, o principal é fazer com que a governança propriamente
dita saia dos gabinetes dos governantes e que os processos de tomada de decisões
no governo se tornem mais visíveis e acessíveis às pessoas comuns. Com isso, os
cidadãos poderão opinar e contribuir efetivamente nas políticas públicas.

Transparência e estímulo para a disponibilização imediata de informações são fatores
determinantes para o relacionamento entre governo e sociedade civil nas próximas
décadas.

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